terça-feira, 17 de março de 2009

Sonho perigoso

Encontrei um artigo muito interessante sobre a evasão precoce e perigosa dos talentos brasileiros para o exterior. Temos hoje fazendo parte da equipe da Águia jogadores que tiveram experiência de jogar no exterior, e também temos alguns ex-jogadores nossos que estão jogando em vários países longe do Brasil. Embora nenhum deles pareça ter vivido pesadelos como os citados no artigo, pensei que seria interessante transcrevê-lo, pois acredito que na nossa cidade e região também há muitos jovens talentos esperando por uma oportunidade de serem descobertos e reconhecidos no futebol profissional - aqui ou no exterior - e eventualmente candidatos a serem vítimas dos golpistas inescrupulosos e dos seus próprios sonhos.

Quem quiser ler o original, ele se encontra no excelente portal "Opinião e Notícias" que não é especialista em esportes, mas com conteúdo de primeira qualidade, em notícias e suas análises.

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O Brasil é um celeiro de talentos do futebol e exporta jogadores, muitos ainda meninos, para todo o mundo. Eles sonham em ser um novo fenômeno, alguém que marque a história do esporte como tantos outros já fizeram. Mas o sonho pode se transformar em pesadelo caso seja confiado a algum dos inúmeros golpistas que atuam como empresários no ramo. Notícias de famílias pobres que perderam tudo o que tinham na esperança de ver o filho se tornar um jogador internacional têm sido cada vez mais recorrentes.

O farsante mais recentemente descoberto é Milton Félix Paulino, que iludiu 17 famílias no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ele se apresentava como empresário de clubes europeus e prometia salários em euro para meninos que nunca havia visto jogar. Algumas famílias ludibriadas por documentos falsos mostrados pelo golpista chegaram a vender suas casas para cumprir a exigência do falso empresário. Paulino dizia que poderia levar o menino para a Europa, mas a família precisava dar a ele R$ 10 mil reais em um curto espaço de tempo. A polícia calcula que o falso empresário tenha conseguido ganhar R$ 200 mil em um ano.

Também há profissionais ligados a clubes que conseguem se aproveitar de jovens jogadores. É o caso do ex-goleiro Wilson Branco Filho, que, após encerrar a carreira, trabalhou em várias equipes como Guarani e Figueirense, até tornar-se preparador de goleiros do time japonês Requios Football Club. Em setembro de 2006 Wilson levou cinco meninos que atuavam nas categorias de base em times do Brasil com a promessa de um futuro brilhante no Japão. Eles passariam por um período de adaptação e depois, caso a comissão técnica os aprovasse, teriam um contrato de jogador profissional com o Requios. Os meninos tiveram que pagar pela passagem de ida ao Japão e ficaram oito meses sem contrato, só treinando, e recebendo apenas um terço da ajuda de custo que o Requios pagava. O resto do dinheiro era embolsado pelo ex-goleiro, que ficou conhecido como Wilson Patifaria, depois que um dos meninos procurou a Imigração e descobriu que todos tinham contrato profissional, só que de artistas, com assinaturas falsificadas.

Farsantes como Wilson conseguem enganar até mesmo jovens com um pouco mais de experiência e com uma carreira já iniciada.

Luizinho Pereira, 21 anos, jogava no Fluminense desde 1998 e ficou lá até 2007, quando já atuava pelos profissionais. Ele chegou a jogar pela Seleção brasileira sub-20 e, mesmo assim, caiu no "conto do vigário". Luizinho saiu do Fluminense, em um excelente momento de sua carreira, por ter recebido uma proposta de três empresários -- um brasileiro, um alemão e um italiano -- para jogar no time russo Rostov.

O jogador conta como foi sua experiência no exterior: "Me disseram que um dos empresários estaria me esperando no aeroporto em Moscou e quando cheguei não tinha ninguém lá. Daí começaram as revelações. Eu fui achando que já tinha um contrato e queriam me colocar para fazer testes. Eu recusei. Além disso, me ofereceram "X" quando estava no Brasil e teria direito a uma quantia "Y" de luvas (prêmio de assinatura). Chegando à Rússia, queriam me pagar praticamente metade de "X" e não teria direito a luvas. Para conseguir voltar para casa, minha mãe entrou em contato com o Consulado, pois faltava uma passagem de Rostov até Moscou. Quando já estava pronto para ir embora, no quarto dia, um representante dos empresários, que deveria ter me buscado no aeroporto no primeiro dia, apareceu. Ainda tentou me convencer a ficar, mas eu acho que tudo que começa errado, termina errado. Preferi voltar para o Brasil".

Luizinho deixou um clube grande e tradicional do Brasil seduzido pela proposta de ser um jogador internacional e receber salários altos, o que acabou prejudicando sua carreira. "O pior de tudo nesta história foi ter deixado o Fluminense. Estava em lugar onde era feliz e já tinha grande parte da minha história ali escrita. Títulos, seleções de base, profissionalização... Muita coisa eu conquistei pelo Fluminense".

Depois de voltar da Rússia, Luizinho jogou no Figueirense e disputou a Taça Rio pelo Volta Redonda. Nesse meio tempo se aventurou em uma nova tentativa de entrar no mercado internacional, desta vez na Romênia. O jogador criou expectativas no time FC Unirea, que quis contratá-lo, mas o empresário que teria que encontrá-lo no aeroporto, ainda não tinha chegado. E ele não apareceu durante toda a semana. O empresário pediu para que Luizinho viajasse para a capital romena com o time no sexto dia, e lá o encontraria e o contrato seria assinado. "Eu preferi voltar para a casa com a única segurança que eu tinha: minha passagem de volta", conta.

Existem ainda histórias mais dramáticas, como a de Carlos Fabrício, que jogou pelo Atlético Mineiro dos 14 aos 17 anos, quando saiu para fazer testes para o Real Madri, na Espanha. Carlinhos, como era conhecido, disse que ficou em uma república com muitos outros meninos que também tiveram seus sonhos frustrados. Ele ficou na Espanha 28 dias e não chegou a realizar os testes para o time. Treinou algumas vezes, mas a situação estava se agravando, o dinheiro dado pelo empresário, que segundo ele, também foi enganado, estava acabando e Carlinhos chegou a ficar sem comer. O rapaz voltou para o Brasil com a ajuda dos pais e desistiu da carreira. "Não quero mais saber de futebol, perdi o gosto. Agora é só como lazer, não vou passar por isso de novo", diz.

Em uma reunião com o presidente da Fifa, Joseph Bletter, em janeiro deste ano, o presidente Lula fez reclamações sobre a transferências precoces de jogadores brasileiros e que acarretam neste tipo de problema. Blatter, por sua vez, cobrou de Lula ações no país que evitem a evasão precoce. "É uma espécie de escravidão moderna. Eu fiquei muito satisfeito que ele tenha levantado essa questão. Eu lhe respondi que no que se refere à proteção dos jovens, a Fifa já tomou sua decisão que não deve mais haver transferências antes dos 18 anos". O dirigente máximo do futebol reconheceu também que a medida levará algum tempo para ser implantada e pediu aos países onde a situação é recorrente que colaborem, registrando os atletas desde as categorias de base.

Para evitar novos casos como o de Carlinhos e Luizinho o advogado Martinho Miranda, membro da Comissão de Esporte e Lazer da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), recomenda que os pais deem preferência ao contato direto com os clubes.

Reportagem: Emanuelle Bezerra

2 comentários:

Anônimo disse...

aff esse blog tem muito texto
seria melhor noticias rapidas e curtas
q facilitem a vida do torcedor

abçs
fabio

Anônimo disse...

Olá, Fabio

Obrigada pela visita e pela crítica!

Abç
yasmin