E, para me situar dentro do contexto Águia-Torcedores, fui reler a entrevista dada pelo presidente do São José, Sr. Hélio Fontes, ao Informativo da Águia (leia a íntegra do artigo neste link), onde o assunto "dívida" foi a tônica das suas declarações.
A questão de dívidas não é assunto cativo apenas dos pequenos clubes do interior, os grandes também têm dívidas (e enormes!) o que não é segredo para ninguém. A sociedade capitalista, aliás, não vive sem fazer dívidas, ou bancos e instituições financeiras não estariam por aí sendo sucesso nas bolsas de valores (por enquanto, quero esquecer a quebra dos bancos americanos que originaram a grave crise que hoje vivemos...)
A questão é, então, como administrar essas dívidas e conviver com elas sem sufoco, e, se preciso for, obter credibilidade no mercado para contração de novas dívidas, com previsão segura e realista para saldá-las. Mas, será que é essa a questão crucial?...
Para poder encontrar o caminho da equação "dívida-desempenho", temos que voltar ao princípio de tudo: qual a vocação de um clube de futebol hoje? Pois se ontem o seu objetivo era um, hoje é outro, bem diferente!
Por imposição das mudanças de hábito e da mentalidade dos povos do mundo inteiro, um clube de futebol hoje, na minha opinião, deixou de ser uma agremiação recreativa apenas para os seus sócios, tornando-se uma verdadeira INDÚSTRIA do segmento de entretenimento.
E uma indústria se insere na sociedade através da produção do seu produto ou serviço para o consumo e satisfação dos seus clientes (consumidores diretos e indiretos), dando emprego a profissionais e obtendo lucro (monetário ou simbólico, emocional) para a própria entidade (ou clube), seus proprietários (ou dirigentes) e seus acionistas (ou sócios). [nota: sobre a impossibilidade de remuneração dos dirigentes, já fiz uma pequena observação a respeito num post anterior.]
Os clubes de futebol, grandes e pequenos do mundo inteiro, passaram ou ainda passam por dificuldades semelhantes às que o São José vive, mas muitos conseguiram reverter essa situação com empenho, ousadia, criatividade e sobretudo com a profissionalização do trabalho gerencial e administrativo. O primeiro exemplo partiu da Inglaterra (com Manchester United) seguido pela Espanha (Barcelona), e aqui no Brasil, a Internacional de Porto Alegre-RS iniciou o seu processo de modernização a partir do início desta década e está dando passos gigantescos no mesmo sentido ("Inter" é o primeiro clube de futebol brasileiro a receber o Certificado de Qualidade ISO 9001).
A linha mestra do trabalho de todos esses clubes foi a mesma: a definição da filosofia da sua existência, definição do seu produto e focalização do segmento dos mercados consumidores, e definição de objetivos e metas - e prazos! - para alcançá-los. E, a partir disso, seguir fielmente o estabelecido, usando as modernas ferramentas de controle, correção e aprimoramento das ações.
E, colocada desta forma, fica claro que a questão central de um clube de futebol não é a dívida, mas a forma de administrar o clube como uma empresa, com objetivos e resultados estabelecidos, e dentro da sua vocação como entidade, onde a dívida NÃO faz parte da definição.
Em outras palavras: se o desempenho do clube melhora como um todo, a dívida como consequência fica administrável, e não o inverso.
Guardadas as devidas proporções (pois somos "apenas" um pequeno clube, mas também de poucas dívidas em valor absoluto, e com uma das torcidas mais fiéis e apaixonadas do interior!), e sendo o caminho idêntico para entidades de qualquer tamanho ou natureza, QUERIA MUITO ver da atual diretoria do São José um documento - ou qualquer indício palpável - COMPROVANDO que o clube está no mesmo caminho desses bem sucedidos exemplos.
Se futebol é "paixão" para a totalidade dos seus fãs, a administração de um clube que vive dessa paixão não pode ficar entregue à mesma emoção, cega e imediatista, pois o capitalismo hodierno já não comporta amadorismo nem perdoa falta de iniciativas. Porém, ainda menos aceitável é o distanciamento ou escamoteamento dessa administração aos olhos dos seus Torcedores, que são os principais e os mais importantes consumidores (e, por que não? PARCEIROS!) do seu produto, que é a qualidade e o desempenho do seu futebol.
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Adendo: Independentemente do que acabo de falar neste post, temos no Estatuto do Torcedor (Lei Federal nº 10.671) a seguinte disposição relativa à relação do clube com os seus torcedores:
CAPÍTULO IX
DA RELAÇÃO COM A ENTIDADE DE PRÁTICA DESPORTIVA
Art. 33. Sem prejuízo do disposto nesta Lei, cada entidade de prática desportiva fará publicar documento que contemple as diretrizes básicas de seu relacionamento com os torcedores, disciplinando, obrigatoriamente:
I - o acesso ao estádio e aos locais de venda dos ingressos;
II - mecanismos de transparência financeira da entidade, inclusive com disposições relativas à realização de auditorias independentes, observado o disposto no art. 46-A da Lei no 9.615, de 24 de março de 1998; e
III - a comunicação entre o torcedor e a entidade de prática desportiva.
Parágrafo único. A comunicação entre o torcedor e a entidade de prática desportiva de que trata o inciso III do caput poderá, dentre outras medidas, ocorrer mediante:
I - a instalação de uma ouvidoria estável;
II - a constituição de um órgão consultivo formado por torcedores não-sócios; ou
III - reconhecimento da figura do sócio-torcedor, com direitos mais restritos que os dos demais sócios.
[nota: negritos por minha conta]
6 comentários:
Caramba Yasmin, vc escreve muito bem, e sempre posta artigos interessantes, parabéns. Continue nos mostrando suas idéias e a sua paixão pelo São José. A partir de amanhã estarei fazendo a cobertura da Águia no Diário da Região, e gostria de contar com a sua ajuda também, sobre novidades no clube. Por exemplo, sempre leio os blogs relacionados ao clube, e o seu foi o primeiro a dar a novidade do site, estava em uma tabela distribuida no estádio sábado, mais vc foi a primeira a lançar na net. Continue assim, e se puderenvie notícias no meu e-mail, pois nem sempre terei tempo para ler todos os blogs, e se tiver no e-mail as notícias mais importantes seria melhor pra mim, se puder fazer isso, vai aqui o meu e-mail: fcaranguejo@yahoo.com.br, muito obrigado. Caranguejo.
Seja bem vindo ao meu modesto blog, Caranguejo! E, muito obrigada pelo elogio :)
Com relação à ajuda, claro que tentarei colaborar com vc sempre que puder, mas pessoalmente duvido um pouco... este blog é muito mais um "diário pessoal" e divagações extravagantes de uma ignorante do que um blog de informação sobre a Águia. Mas, já tomei nota do seu e-mail, e se houver algo que eu possa contar de "novidade" estarei com certeza notificando vc. E lhe desejo muita sorte e sucesso na nova e gratificante tarefa, a de cobrir os passos da Águia no jornal.
Conto também com a sua presença nos comentários deste blog, ok? :)
Abç!
yasmin
Tá valendo, não quero furos de reportagens, somente informações sobre a equipe, e como disse, às vezes vc lança algo na net que ninguém sabe...rs. Caranguejo.
Oi YASMIN, tudo bem?
A respeito deste assunto das DÍVIDAS, penso que a ÁGUIA DO VALE, não deve tanto perto de alguns clubes pelo país, vejamos:
CORINTHIANS deve 92 milhões
FLAMENGO deve 300 milhões
O SÃO JOSÉ, tem hoje uma dívida perto dos 8 milhões de reais. Certo dia fui oferecer o produto que eu trabalho "CARIMBO" para um empresário na cidade.
Ele me disse que estava chegando da cidade de CAMPINAS, perguntei a ele; Qual time que ele torcia em CAMPINAS, GUARANI ou PONTE PRETA? E ele me respondeu:
O meu time deve 80 milhões e está falido. Trata-se do GUARANI. Eu disse a ele:
Se o GUARANI deve 80 milhões o meu não deve nada então, só deve 10% que o BUGRE deve.
As dívidas no caso do SÃO JOSÉ na minha opinião é simples de resolver. Se a diretoria da ÁGUIA ter um TRABALHO SÉRIO nas CATEGORIAS DE BASE, ou seja, REVELA JOGADOR E VENDE, REVELA JOGADOR E VENDE, aos poucos esta dívida cai e em pouco tempo o SÃO JOSÉ diminuíria esta malfadada dívida.
FABIANO MARINI
Oi, Caranguejo!
Nossa, o que será que eu disse na net que "ninguém" sabe?!
Abç!
yasmin
Oi, Fabiano! que bom ver a sua participação outra vez :) (Já tava achando que eu falei alguma bobagem aqui...)
Qto à dívida, então... 8 mi não é nada, né; acho que escrevi que ela não é grande, mesmo.
Qto à Cat. de Base, concordo com vc em nº, gênero e grau! Ainda vou escrever sobre a composição de renda de um clube, seja grande ou pequeno, onde a CB faz toda a diferença.
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