No ano passado, a equipe do São José que disputou o campeonato de A2 recebia premiação extra (o famoso "bicho") por ponto conquistado. Ao longo da 1ª fase, a equipe recebia o bicho a cada partida empatada ou ganha, mas não conseguiu a classificação para a fase seguinte. Com isso, o clube gastou dinheiro sem o resultado esperado que era a classificação e o acesso.
Assim, antes do início do campeonato deste ano, a diretoria do São José havia decidido que não haveria pagamento de prêmios extras durante a evolução do campeonato, evitando-se assim repetir o fracasso. A promessa era pagamento de prêmio por objetivo alcançado, ou seja, a classificação na 1ª fase e a conquista do acesso na fase seguinte.
Embora não fossem remunerados com a bonificação, a equipe vem recebendo o seu salário em dia, desfrutando de boas acomodações, alimentação e assistência médica, e correspondendo às expectativas do clube e da torcida que há muito espera pela boa campanha do clube nas competições.
Desse modo, ninguém esperava qualquer alteração nas formas de remuneração dos jogadores, o acordo inicial parecia estar sendo cumprido e satisfatório para todas as partes envolvidas.
Mas, então, noticiou-se há dois dias a mudança na política de remuneração dos jogadores, decidindo-se por pagar novamente o bicho por partida, o que gerou polêmica. (Eu havia entendido no início que essa iniciativa havia partido da própria diretoria, mas soube depois que foram os jogadores que solicitaram o prêmio extra, tendo em vista a política adotada por outros clubes.)
Com argumentos como "outros clubes fazem o mesmo" e "bicho é cultura do nosso futebol", a direção concordou em pagar R$ 2.500,00 a ser repartido entre os jogadores, a cada final da rodada, condicionando-o ao resultado (empate ou vitória) e à permanência da equipe no G4, condição válida até o final da 1ª fase.
Estamos bem no meio da fase inicial: jogamos 9 partidas e restam 10 até a conclusão. Se a equipe conseguir se manter no G4 até o fim, sempre ganhando ou empatando, o clube irá desembolsar R$ 25.000,00 até o dia 15 de abril, isto é, aproximadamente 1 mês, onerando a sua folha de pagamento em cerca de 20%.
Analiso essa questão sob vários aspectos envolvidos.
Aspecto financeiro:
No próximo dia 13 encerra-se a inscrição de novos jogadores a serem contratados. Face á urgência, e face à escassez da disponibilidade dos jogadores potencialmente merecedores de compor o plantel, não há muito espaço para negociação do salário dos reforços. Levando-se em conta que esse valor de R$ 25 mil é somente para o próximo mês, havendo necessidade de prover a caixa para premiações na 2ª fase e acesso, qual será o peso do comprometimento desses valores extra na tentativa de contratar novos reforços?...
Aspecto "resultado":
O campeonato deste ano é ímpar no seu equilíbrio de forças; há pelo menos 12 equipes que brigam por se classificar para a 2ª fase, e pode haver mais surpresas nesta 2ª etapa da 1ª fase. Se a promessa de remuneração extra serve de incentivo adicional para o desempenho dos jogadores em campo, isso de maneira alguma assegura a posição do clube dentro da tabela. E os jogadores sabem disso, ou seja, que não importa o quanto esforcem, eles correm o risco de não receber o prêmio se outras equipes obtiverem resultados melhores em cada rodada. O pagamento do bicho, assim, acaba desvinculado do mérito dos jogadores em campo pois o pagamento está condicionado também ao "mau" resultado de outras equipes.
Aspecto psicológico:
Os jogadores solicitaram o pagamento do bicho, em virtude de os demais clubes praticarem essa política (foi o que acabei entendendo...) Nada incomum, e até muito compreensível essa atitude reivindicatória por melhores remunerações, vindo principalmente de uma equipe que tem demonstrado competência no cumprimento das suas tarefas. Entretanto, a decisão da diretoria em ceder à reivindicação, voltando atrás na sua determinação anterior, pode denotar falta de "pulso firme" ou "clareza dos seus próprios propósitos". Se isso acontecer, a diretoria corre o risco de comprometer o respeito que todos devem ter por ela, pois é inegável o esforço dessa diretoria na condução dos destinos do clube, mesmo sendo às vezes "prudente demais". Teria havido algum indício de que jogadores "fariam corpo mole" caso o bicho fosse negado?... Não quero especular sobre o que houve na reunião onde foi acordado o pagamento do bicho, mas a impressão que me fica é a de que a diretoria não soube esclarecer com argumentos sólidos e nem defender a decisão inicial (e aceita por todos) antes do início do campeonato. E jogadores não souberam ponderar devidamente sobre as dificuldades financeiras do clube nem valorizar o suficiente as condições excepcionais de trabalho que lhes tem sido oferecidas.
Muito se tem falado da "garra" e "raça" desses jogadores, eu mesma tenho enaltecido essas qualidades - raras hoje em dia - de uma equipe que aparenta coesão, cooperativismo e determinação de correr atrás dos resultados até o último segundo de cada partida, cada jogador dando o máximo de si mesmo não estando no seu melhor dia. Essas qualidades se confundem com o "amor à camisa", cujo exemplo mais concreto é a postura do Renato Santiago que lutou para voltar ao clube mesmo sacrificando ofertas melhores de salário. O São José, ao montar esse time, demonstrou ser um clube diferenciado em todos os aspectos que circundam a prática do futebol profissional na série A2. É o clube que mais trabalha na recuperação da imagem financeira e credibilidade junto ao mercado dos patrocinadores, é o clube que se orgulha de ter a maior e a mais apaixonada torcida do interior, é um clube que se esforça em honrar os seus compromissos, é um clube que se estrutura para dar as melhores condições de trabalho à sua equipe dentro das possibilidades realistas.
A reivindicação pelo bicho e aceitação em pagá-lo me soam estranhas em meio a esse clima de paixão pela Águia. E temo que esse acordo acabe por afetar NEGATIVAMENTE as qualidades da equpe acima citadas. Por quê? Porque o amor não se vende, não se negocia, ele age primeiro e cresce na medida do reconhecimento da abnegação espontânea. A equipe vinha demonstrando a sua capacidade e competência, e sabia que a recompensa viria na classificação e acesso (sem contar que a maior recompensa para um jogador profissional é ter feito parte da equipe que subiu!) Ao ser recompensado desde já, o seu esforço em merecer o prêmio se "desvaloriza", o mérito acaba pulverizado nos poucos reais por partida que se recebe, se receber. E quem é tratado como mercenário tende a agir como tal, seguindo a famosa lei da "profecia auto-realizadora".
Mas, enfim... o acordo foi feito, e nada mais há que se possa fazer. Voltar atrás agora é totalmente impossível. Tomara que tudo dê certo, que venham os reforços realmente valiosos, que a equipe continue dando o máximo de si e conquiste o tão almejado acesso, por mérito de TODOS - dos jogadores, da comissão técnica, da diretoria e da sua Grande Torcida!
Vamos voar, Águia!
sexta-feira, 6 de março de 2009
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2 comentários:
Oi YASMIN, tudo bem?
Continuo com a mesma opinião, não concordo com esta decisão da diretoria.
Eles estão cometendo o mesmo erro do CAMPEONATO do ano passado.
FABIANO MARINI
Também não concordo mas... adianta discordar? O erro já está cometido e não dá para voltar atrás, sob pena de piorar a situação mais ainda. Ou vc acha que os jogadores vão aceitar na boa deixar de ganhar o que acaba de ser prometido?! Só boa vontade não dirige futebol, o que parece faltar à essa diretoria é um pouco mais de bom senso e boa vontade para ouvir opiniões dos outros antes de tomar esse tipo de decisão. Só espero que a contratação dos reforços prometidos não fique comprometida por falta de caixa.
Abração!
yasmin
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